31 de dezembro de 2011 AD
Desde
1977, Theonomy in Christian Ethics tem servido para estabelecer a chave distintiva da
Reconstrução Cristã. O Reconstrucionismo Cristão como uma escola distintiva de
pensamento dentro da tradição Reformada está fundamentado sobre cinco premissas
teológicas básicas:
(1) Soteriologia calvinista;
(2) teologia da aliança;
(3)
escatologia pós-milenista;
(4) apologética pressuposicional; e
(5) ética
teonômica: a pedra angular do pensamento reconstrucionista. [1]
Sem dúvida, o
aspecto mais distintivo do movimento é o tópico deste livro: ética teonômica,
que estabelece toda a revelação de Deus na Escritura (incluindo a lei Mosaica)
como a fonte de uma ética verdadeiramente cristã em tudo da vida – privada e
pública, cultural e política, social e judicial. [2]
A
primeira vez que tomei ciência da abordagem teonômica na ética foi em 1975,
quando foi transferido para o Reformed
Theological Seminary (Jackson,
Mississippi), após estudar no Grace
Theological Seminary (Winona Lake,
Indiana). Mediante o meu estudo pessoal e extracurricular no seminário Grace,
fiquei frustrado com o dispensacionalismo e intrigado pela teologia da aliança.
No meu novo seminário encontrei o seu professor recém-chegado, Greg L. Bahnsen,
Professor Adjunto de Apologética. Eu tinha várias aulas com ele — de maneira
mais significativa em seus cursos sobre “História e Escatologia” e “Ética
Teísta Cristã”.
Minha primeira introdução seu livro Theonomy in Christian Ethics foi bem incomum: as aulas de ética exigiram leituras do livro antes dele ser publicado. Tivemos que ler páginas de prova soltas e cortadas em pequenas caixas numa sala da livraria do seminário (minha esposa, Melissa, era bibliotecária ali e lembra-se bem de tirar e guardar as pequenas caixas para os estudantes). Estávamos lendo o livro mesmo antes dele sair “quente da gráfica”.
Minha primeira introdução seu livro Theonomy in Christian Ethics foi bem incomum: as aulas de ética exigiram leituras do livro antes dele ser publicado. Tivemos que ler páginas de prova soltas e cortadas em pequenas caixas numa sala da livraria do seminário (minha esposa, Melissa, era bibliotecária ali e lembra-se bem de tirar e guardar as pequenas caixas para os estudantes). Estávamos lendo o livro mesmo antes dele sair “quente da gráfica”.
Assim,
ao me transferir de uma seminário fundamentalista e dispensacionalista para um
reformado e aliancista, encontrei implicações bastante inesperadas e
surpreendentes de uma calvinismo rigorosamente aliancista: sua aplicação à
esfera da ética, i.e., teonomia. Para dizer o mínimo, não somente resistir à
perspectiva teonômica de Bahnsen no princípio, mas fiquei muito alarmado com
ela. Todavia, sentando debaixo da instrução cuidadosa, deliberada, coerente,
rigorosa e convincente de Bahnsen, muitos dos meus colegas e eu mesmo nos
“convertemos” à ética teonômica antes do curso terminar. Alguns dos estudantes
tornaram-se mais tarde expoentes bem conhecidos da teonomia, incluindo Gary
DeMar, David Chilton, e Richard Flinn. Durante os meus dias de estudante no RTS
(1975–77), passei a admirar grandemente o talento teológico de Bahnsen, sua
precisão filosófica e clareza da instrução. Após aqueles dias e até sua morte
prematura em 11 de dezembro de 1995, eu enriqueci o meu relacionamento com ele,
não somente tendo-o como meu mentor e alegrando-me em trabalhar com ele como um
colaborador em teologia, mas também me deleitando numa amizade íntima: Bahnsen
e eu escrevemos House Divided: The
Break-up of Dispensational Theology,
servimos como professor adjunto na faculdade do Christ College,
e falamos juntos em várias conferências. Eu o convidei para falar em minha
igrejas em inúmeras ocasiões e ele me convidou para acompanhá-lo como instrutor
na equipe do seu Southern California
Center for Christian Studies.
Trabalhar com ele nesses vários empreendimentos ministeriais foi um grande
privilégio e alta honra. Ele teve um impacto em meus comprometimentos
teológicos maior do que qualquer outro erudito que eu poderia citar. E eu
conheço muitos cristãos que poderiam afirmar com prazer a mesma coisa.
Infelizmente,
porém, a ética teonômica não é bem vista, haja vista os valores modernos de paz
e afluência pessoal. Seu caráter absolutista permanece como a Rocha de
Gibraltar contra as ondas implacáveis e sempre mutantes da abordagem da vida
faça-do-seu-jeito. Tristemente, mesmo dentro dos círculos conservadores e
evangélicos, bem como dentro dos círculos cristãos reformados, a teonomia tem
gerado uma enorme e vigorosa oposição. Pior ainda, a grande maioria dos
adversários de Bahnsen nunca separaram um tempo para ler o seu argumento
extenso e detalhado apresentado em Theonomy
in Christian Ethics, a Bíblia da ética
teonômica.
Lembro-me
inclusive de ficar surpreendido durante um exame teológico em meu presbitério
na Presbyterian Church in America. O examinador, um ministro ordenado, estava
questionando um candidato ao ministério com respeito à questão da teonomia. Em
seu interrogatório, o ministro não podia nem mesmo pronunciar “teonomia”, de
forma que ele a soletrou! Levantei-me e perguntei se o examinador tinha
lido Theonomy in Christian Ethics, que explica a posição; ele confessou que não
tinha lido, mas sabia que a posição era errada. E esse tipo de resposta
desinformada e altamente emocional não é única no debate contínuo sobre a ética
teonômica.
Talvez
a resenha mais bizarra foi aquela escrita pelo reformado (maverick) e erudito
em Antigo Testamento, Meredith G. Kline. Sua resenha começou com denúncias
contundentes e carregadas de emoção contra Greg Bahnsen e a teonomia —
misturadas com admissões que a perspectiva repugnante da teonomia estava
inerente na própria Confissão de Fé de Westminster. A primeira sentença de
Kline reclama sobre o “tipo de escrita acalorada de Greg Bahnsen”. Sua segunda
sentença lamenta sobre “a tragédia da Chalcedon”
(i.e., seu nome para o movimento teonômico), que promove “uma perversão
ilusória e grotesca” da Escritura. Kline inclusive observa o seguinte sobre
essa “perversão grotesca”: “Os tribunais eclesiásticos que trabalham sob a
Confissão de Fé de Westminster terão os seus problemas, portanto, se decidirem
trazer a aberração da Chalcedon para uma análise judicial”. [3]
Por quê? Como
ele observa bem: “Chalcedon não tem raízes na tradição eclesiástica
respeitável. Ela é na verdade um reavivamento de certos ensinamentos contidos
na Confissão de Fé de Westminster”.[4]
A
despeito da difundida resposta emocionalmente carregada e eclesiasticamente
encorajada contra a teonomia, vários eruditos evangélicos bem respeitados
reconhecem a abordagem teonômica como uma opção viável no debate, embora eles
mesmos não a adotem. Por exemplo, observe os seguintes comentários:
#
Ronald Nash, um teólogo reformado do Reformed
Theological Seminary, Orlando, escreve
que: “Por um lado, o povo chamado de teonomistas não parecem ser perigosos.
Esforços para mostrar que eles são perigosos contribuem mais, eu suspeito, para
desonrar as pessoas que levantam as acusações”. [5]
#
Mark Noll, McManis professor da matéria Pensamento Cristão no Wheaton College,
observa que a teonomia insiste “em fundamentos teológicos cuidadosamente
formulados para a ação política”, a qual “leva a uma reflexão política mais
auto-consciente do que aquela habitual na tradição evangélica”. [6]
#
Carl F. H. Henry, em sua série magistral God, Revelation, and Authority, expressa apreço pelo livro Theonomy in Christian Ethics: “Através de uma riqueza de dados bíblicos, Greg
L. Bahnsen estabelece que os mandamentos de Deus impõe obrigação moral
universal; que os padrões éticos de Deus devem informar universalmente a legislação
civil; que idealmente os magistrados civis devem impor os mandamentos sociais
de Deus e que os cristãos devem estar envolvidos no uso pactual da lei divina (Theonomy in Christian Ethics)”.[7]
#
J. G. Child elogia a teonomia, por “forçar os cristãos a lidar com a
contribuição do Antigo Testamento para a ética cristã e uma sociedade justa, e
ao oferecer soluções bíblicas perspicazes para os problemas do mundo moderno,
os Reconstrucionistas têm enriquecido a igreja”. [8]
#
D. Claire Davis, professor de História Eclesiástica no Westminster Seminary, observa: “A teonomia pode ser de grande serviço
precisamente dentro do contexto da constituição da república americana”.
Adiante ele continua: “É fácil argumentar que o compromisso da Confissão de
Westminster para com a equidade geral da lei do Antigo Testamento fornece ampla
justificação para o esclarecimento teonômico dessa equidade”. [9]
#
Mesmo na nota introdutória ao livro Theonomy:
A Reformed Critique, uma crítica
reformada ferrenha à teonomia, os editores puderem concluir: “Embora este
volume seja uma crítica à teonomia, vários capítulos foram concluídos com uma
nota de apreciação positiva pelo que os teonomistas têm contribuído para o
nosso entendimento da lei de Deus”. [10]
Consequentemente,
estou muito satisfeito pela Covenant
Media Press ter empreendido a tarefa de
republicar esse clássico insubstituível sobre ética bíblica, que tornou-se uma
obra de referência amplamente citada.[11] Nesta edição o texto permanece
praticamente inalterado, exceto pela correção de diversos erros de digitação, o
uso de uma fonte mais legível e mais espaço em branco (para conforto do leitor)
— e pela adição de umas poucas obras de referência atualizadas. Uma vez mais os
oponentes da teonomia têm ao seu dispor o sistema completo claramente
apresentado. Espero que desta vez eles leiam.
Kenneth
L. Gentry, Jr., Th.D.
7
de junho de 2001
Bahnsen
Theological Seminary
Placentia,
California
NOTAS:
[1]
– Alguns teólogos reconhecem todos esses cinco pontos, e.g., J. G. Child,
“Christian Reconstruction Movement,” in David J. Atkinson, David F. Field, et
al. New Dictionary of Christian Ethics
& Pastoral Theology (Downers
Grove, IL.: InterVarsity, 1995), 227. Outros escritores que não fazem parte do
movimento colocam apenas alguns desses pontos, mas interessantemente, eles
reconhecem essas questões. Por exemplo, “essas ideias fundacionais são
subjacentes à agenda reconstrucionista: (1) uma apologética pressuposicionalista;
(2) uma crença que a lei do Antigo Testamento se aplica hoje, de maneira
‘exaustiva’ e em detalhes ‘mínimos’; e (3) o pós-milenismo”. Daniel G. Reid,
Robert D. Linder, et. al, eds., Concise
Dictionary of Christianity in America (Downers
Grove, IL.: InterVarsity, 1995), 285.
[2]
– Um erro comum de alguns oponentes da teonomia é asumir que teonomia implica
pós-milenismo. As duas construções teológicas, contudo, são distintas; de forma
alguma elas permanecem ou caem juntas. O pós-milenismo está preocupado com “o
que será”; a teonomia está focada em “o que deveria ser”.
Muitos teonomistas são amilenistas; poucos pós-milenistas são teonomistas.
[3]
– Meredith G. Kline, “Comments on an Old-New Error: A Review Article,” in Westminster Theological Journal 41:1 (Fall, 1978), 173.
[4]
– Kline, “Old-New Error,” 173.
[5]
– Ronald H. Nash, Great Divides:
Understanding the Controversies That Come Between Christians (Colorado Springs, CO.: NavPress, 1993), 176.
[6]
– Mark A. Noll, The Scandal of the
Evangelical Mind (Grand Rapids: Eerdmans, 1994),
225.
[7]
– Carl F. H. Henry, God
Who Stands and Stays (Part Two),
vol. 6 de God, Revelation and Authority (Waco, Tex.: Word, 1983), 447.
[8]
– J. G. Child, “Christian Reconstruction Movement,” 227.
[9]
– Will S. Barker and W. Robert Godfrey, Theonomy: An Informed Critique (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 392, 394.
[10]
– Will S. Barker and W. Robert Godfrey, eds., Theonomy: An Informed Critique (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 385.
[11]
– D. J. Moo, “Law,” in Michael B. Green, Scot McKnight, I. Howard Marshall,
eds., Dictionary of Jesus and the Gospels: A
Compendium of Contemporary Biblical Scholarship (Downers Grove, IL.: InterVarsity, 1992),
461. J. G. Child, “Christian Reconstruction Movement,” in New Dictionary of Christian Ethics & Pastoral
Theology, 227. P. A. Marshall, “Theonomy,”
in New Dictionary of Christian Ethics
& Pastoral Theology, 845. Joe M.
Sprinkle, “Law,” in Walter A. Elwell, ed., Evangelical Dictionary of Biblical Theology (Grand Rapids: Baker, 1996), 470. J. H. Gerstner,
“Law in the NT,” in Geoffrey W. Bromiley, ed., The International Standard Bible Encyclopedia, 2d ed. (Grand Rapids: Eerdmans, 1982), 3:91.
Thomas D. Ice, “Reconstructionism, Christian,” in Mal Couch, Dictionary of Premillennial Theology (Grand Rapids: Kregel, 1996), 362. J. R.
McQuilkin, “Reformed Ethics,” Roland Kenneth Harrison, ed., Encyclopedia of Biblical and Christian Ethics, ( 2d. ed.: Nashville: Nelson, 1992), 348. David
Clyde Jones, Biblical Christian Ethics (Grand Rapids: Baker, 1994), 113–15.
Fonte: Theonomy
in Christian Ethics, p. xv-xx.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto, 31 de dezembro de
2011
ICET - Instituto de Cultura e Educação Teonomista
E-mail: culturateonomista@gmail.com
#teonomia #teonomiapolitica #igrejacrista #igrejaevangelica #pastor #teologo #calvinismo #evangelico #evangelicos #mackenzie #cristianismo #estado #presbiteriano #estadocristao #reconstrucaocrista #dominionismocristao #igrejaevangelcia #igrejacrista #igrejaprotestante #direitoconstitucional #direitodoestado #filosofiadodireito #direitopenal #penademorte #penacapital #prisaoperpetua #lei #LEI #leidivina
Nenhum comentário:
Postar um comentário