1 de janeiro de 2012 AD
No começo do século 20, a apologética cristã
recuperou sua objetividade e aproximou-se mais da consistência teológica por
meio da obra de Cornelius Van Til. Com base na antropologia de Romanos 1 e a
epistemologia revelacional de João Calvino, Van Til lembrou a igreja que o
empreendimento apologético deve considerar seriamente a queda do homem e a
função condenatória da revelação natural. O problema fundamental do incrédulo
não é ignorância, mas rebelião. O encontro com a incredulidade, portanto, deve
expor e desafiar as pressuposições rebeldes do incrédulo. O fracasso em fazer
isso obscurece a clareza, necessidade e a total suficiência da Escritura. E
nega o Senhorio abrangente de Jesus Cristo, especialmente na esfera do
conhecimento. Qualquer método de apologética que falhe em enfatizar a certeza
absoluta da cosmovisão cristã revelada na Escritura enfraquece as
reivindicações do evangelho e rende-se à lógica e ciência incrédula, as quais
elas mesmas manifestam as consequências da incredulidade e devem ser reformadas
à luz da Palavra de Deus.
Dessa forma, Van Til insistia que a apologética
cristã deve proceder em duas frentes. Negativamente — e essa era a ênfase
primária de Van Til, embora não exclusiva — a apologética cristã deve
demonstrar a impossibilidade absoluta de alcançar objetividade, certeza e
verdade em termos da cosmovisão do incrédulo, seja qual forma ela tomar. Deus
tornou louca a sabedoria deste mundo, e essa loucura tem consequências
devastadoras para o homem em toda área, intelectual bem como espiritualmente.
Positivamente, o apologista deve defender sem constrangimento a verdade e
certeza absoluta da cosmovisão cristã, pois Deus, Sua revelação, e a pessoa e
obra de Jesus Cristo são os fundamentos do conhecimento em toda esfera. A prova
positiva e incontestável de Van Til para a existência de Deus é que sem Ele,
ninguém pode provar coisa alguma. De fato, o incrédulo pressupõe a existência
de Deus e a verdade de Sua Palavra, mesmo que a cada passo ele negue isso e
procure estabelecer e preservar sua autonomia. A incredulidade deve acontecer
no mundo de Deus; isso é inevitável.
Ensinando por exemplo
Greg Bahnsen fez mais do que qualquer outra pessoa
no século 20 para popularizar, explicar e aplicar o método de Van Til. Ele
reconheceu que o estilo de escrita de Van Til era frequentemente obtuso e
difícil para aqueles não versados nos principais movimentos da filosofia
ocidental. Além disso, Van Til não era um sistematizador, posto que não
produziu um volume único no qual cada faceta do seu método apologético,
respostas a críticos, e fundamentos exegéticos foram cuidadosamente definidos.
Esse foi um aspecto importante da vida e obra de Greg Bahnsen. Ele produziu
inúmeros livros, ensaios, palestras gravadas e séries nas quais ele forneceu os
fundamentos exegéticos específicos do que veio a ser chamado “apologética
pressuposicional”. Por meio dos seus debates públicos, ele demonstrou aos seus
estudantes que o método de Van Til não somente era funcional, mas também eficaz
em demolir todo pensamento levantado em oposição a Jesus Cristo. Esses são
aspectos bem conhecidos do seu legado e as gerações subsequentes entenderão e
apreciarão Van Til por meio das contribuições do seu talentoso aluno. Greg
Bahnsen também enfatizou certos aspectos práticos, todavia frequentemente
negligenciados, ou implicações da apologética pressuposicional.
A tarefa mais difícil do apologista cristão
Primeiro, contra a tendência de ver a apologética
pressuposicional de maneira simplista, como se houvesse uma fórmula para o
sucesso apologético fácil, Bahnsen lembra aos seus estudantes que seu método na
verdade leva seus adeptos ao trabalho duro e análise cuidadosa. “Respondendo o
tolo de acordo com sua tolice” requer estudo paciente dos sistemas incrédulos,
de forma que sua “tolice” (i.e., consequências filosóficas e morais
devastadoras) possa ser entendida e exposta. Visto que a apologética é
essencialmente a confrontação de sistemas opostos, o crente deve buscar
entender o sistema inteiro adotado pelo incrédulo, não simplesmente pequenos
pedaços. O coração do homem é enganosamente perverso, e ele buscará muitos
esconderijos para sua incredulidade, os quais devem ser investigados e
entendidos à luz do sistema total do qual eles são parte. É somente assim que o
tolo pode ser exposto completamente e as reivindicações de Cristo pressionadas
sobre ele de maneira abrangente. Por seu exemplo pessoal e encorajamento, Greg
Bahnsen chamou seus estudantes a dominar os sistemas concorrentes de
pensamento, pois somente assim evitaremos pensar que a apologética é “fácil” ou
“formulática”.
A atitude humilde do apologista cristão
Segundo, Greg Bahnsen encorajava humildade. Um dos
seus temas constantes era que o apologista cristão deve lembrar que ele tinha
recebido entendimento pela graça. Portanto, ele não deve se engajar na
apologética como um intelectual estridente, mas como um discípulo humilde de
Jesus Cristo. Além disso, porque somente a graça, dada por meio da obra
regeneradora do Espírito Santo, realiza a conversão, o crente deve depender
última e constantemente da obra do Espírito no incrédulo para trazê-lo à fé em
Jesus Cristo. Isso preserva o apologista de pensar que ele pode trazer o
incrédulo para o reino de Deus simplesmente “argumentando”. Visto que a fé em
Cristo é o objetivo do encontro apologético, a dependência da graça soberana
impede o apologista cristão de ver o encontro como uma oportunidade para
demonstrar sua superioridade intelectual, que frequentemente ele não possui.
Céu ou inferno é a questão em jogo, não domínio intelectual. Ao mesmo tempo,
dependência da graça do Espírito Santo não torna supérflua a argumentação
humilde. Porque “responder ao tolo” é uma ideia totalmente bíblica, o Espírito
Santo frequentemente usa o aspecto negativo da apologética para trazer o
incrédulo a um reconhecimento da futilidade da vida à parte da fé no Deus trino
de Escritura. Embora a apologética pressuposicional seja frequentemente
caricaturada como obscurantista, arrogante ou hiper-intelectual, entendida
apropriadamente, ela gera mansidão, simpatia pessoal, e paciência em buscar
ganhar o incrédulo para Cristo.
A reivindicação abrangente do apologista cristão
Terceiro, Greg Bahnsen enfatizava fortemente o
aspecto positivo da apologética cristã. A redução da cosmovisão do incrédulo ao
absurdo limpa o terreno para o evangelho, mas não ergue a estrutura. O
evangelho cristão deve ser visto em todo o seu poder e glória salvadora, não
somente como o caminho para o perdão dos pecados e a obtenção da justiça por
meio da fé na obediência e sacrifício de Jesus; mas também como uma revelação
de Deus que preserva o conhecimento para o homem, fornece um fundamento para a
cultura humana, e dirige o homem à única fonte de orientação ética. Isso deve
ser demonstrado por argumentação cuidadosa, não simplesmente colocada como uma
reivindicação de fé ou encorajada como um caminho para a satisfação
psicológica. A apologética cristã não é meramente um trator que demole toda
fortaleza de incredulidade; ela também funciona como o arquiteto que ergue a
cidade de Deus firmemente sobre o fundamento da revelação de Deus na Escritura.
Esse aspecto positivo da apologética é especialmente importante no clima
pós-moderno, pois o pluralista se unirá ao apologista cristão afirmando muitas
de suas críticas da filosofia moderna e a natureza pressuposicional do
pensamento humano. Se nos focarmos somente no negativo, não teremos demonstrado
a verdade da cosmovisão cristã. Podemos de fato confirmar o relativista radical
em suas trevas se falharmos em pressionar sobre ele que nem todos os sistemas
de pensamento são falidos e tendenciosos; nem todos os círculos de raciocínio
são viciosos. Ele pode não abraçar o evangelho, mas ele deve ser confrontado
com a reivindicação e demonstração da reivindicação que o Cristianismo somente
resgata o homem do relativismo, do preconceito e do caos.
Um desafio final
Embora esses não sejam o único legado de Greg
Bahnsen, o trabalho duro, graça e humildade, e demonstração positiva são três
aspectos distintivos de sua abordagem da apologética pressuposicional.
Defensores do pressuposicionalismo fariam bem em prestar atenção a eles. A
tarefa de desenvolver uma apologética abrangente, bíblica e que honra a Cristo
não está completada. O fundamento foi lançado por Van Til e melhorado por Greg
Bahnsen, mas é a tarefa de toda geração construir sobre o fundamento de seus
pais; não devemos rejeitar suas contribuições por serem incompletas e
imperfeitas, mas sim permanecer sobre os ombros deles e continuar a grande obra
de apresentar, defender e persuadir os homens de que Jesus Cristo é o caminho,
a verdade e a vida em toda área da investigação humana, decisão moral e busca
espiritual.
Fonte: Chalcedon Report, February 2004, Issue
460.
Tradução: Felipe Sabino de
Araújo Neto, 24 de dezembro de 2011.
ICET - Instituto de Cultura e Educação Teonomista
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