Críticos do “Dominionismo” estão alegando que os
adeptos desse sistema de crença vagamente definido querem reinstituir a
escravidão. Pode isso ser verdade? A escravidão praticada nos Estados Unidos
antes de 1860 era o “rapto humano”, melhor definido como “sequestro”. Negros
africanos do ocidente eram sequestrados, frequentemente por outros negros
africanos ocidentais, colocados em navios, trazidos para o nosso litoral,
vendidos em leilões, e finalmente colocados em trabalho forçado [1]. Em termos
bíblicos, isso era errado. Manter que essa forma deveria ser reinstituída hoje
em nome da “lei bíblica” é patentemente absurdo.
Muitos dos
primeiros colonizadores da América pagaram para deixar de ser servos por
contrato [indentured servants]. Um ladrão que fosse incapaz de fazer
restituição poderia ser vendido em servidão por seu furto (Êx 22.3b). Mesmo
após a abolição da escravatura, a servidão por contrato foi mantida pela
Constituição como uma forma legítima de castigo: “Não haverá, nos Estados
Unidos ou em qualquer lugar sujeito à sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos
forçados, salvo como punição por um crime pelo qual o réu tenha sido
devidamente condenado” (Emenda XIII, Sec. 1). Essa forma de “escravidão”,
termo nunca usado na Bíblia [2], é uma alternativa melhor do que punir alguém
na prisão, custando aos contribuintes uma grande quantia de dinheiro, e
tornando um ladrão num ladrão melhor, mais degradado, à medida que fica
trancafiado numa jaula como um animal.
A escravidão como praticada nos Estados Unidos não pode ser apoiada
mediante um apelo à Bíblia: “E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado
na sua mão, certamente será morto”. Não existe nenhuma indicação de que Êxodo
21.16 se refira apenas aos israelitas. Se assim fosse, então o versículo 12
também se aplicaria somente aos israelitas, visto que sua linguagem é similar
àquela do versículo 16:
“Quem ferir
um homem, de modo que este morra, certamente será morto.” (21.12)
“E quem raptar
um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será
morto.” (21.16)
James B. Jordan oferece um bom resumo das questões envolvidas: “A Bíblia
castiga todos os que roubam homens com a pena de morte obrigatória. Em
Deuteronômio 24.7, o sequestro dos membros da aliança é particularmente
proibido, mas em Êxodo 21.16, o roubo de todos e qualquer homem é proibido. Pode-se
sustentar que se lemos o v. 16 no contexto do v. 2, então somente os hebreus
são protegidos e vingados por essa lei. Contudo, o texto diz simplesmente
‘homem’, e não existe nenhuma indicação no contexto imediato (v. 12, 14) de que
‘homem’ se restringe aos membros do pacto”. [3]
Sabemos que, no Novo Testamento, Paulo condena os traficantes de
escravos (sequestradores) em 1 Timóteo 1.10. O livro de Apocalipse considera
aqueles que comercializam “corpos e almas de homens” como sendo imorais e
destinados ao juízo (18.13). Em nenhum lugar o Novo Testamento apoia o tráfico
de escravos. A carta de Paulo a Filemon não sustenta a noção de que o Novo
Testamento tolera a escravidão clássica. Onésimo era provavelmente um servo que
tinha uma dívida para com Filemon. Paulo encoraja que o Onésimo fujão retorne a
Filemon e encoraja que Filemon liberte Onésimo após a sua chegada. Paulo diz a
Filemon que promete pagar se Onésimo “te deve alguma coisa”. (Fl 18). A menção
de uma dívida por Paulo parece indicar que Onésimo era um servo por contrato.
[4]
Charles Colson aplicou ao sistema judicial de hoje os princípios da lei
do Antigo Testamento com respeito à restituição e aos crimes contra
propriedade:
Recentemente falei diante do Parlamento do Texas… Disse-lhes que a única
resposta para o problema do crime é tirar criminosos não violentos das nossas
prisões e fazê-los pagar suas vítimas com restituição. É assim que podemos
resolver o problema da superlotação nas prisões.
O incrível é que depois eles [os parlamentares] vieram até mim, um após
o outro, e disseram coisas como: “Essa é uma ideia tremenda. Por que ninguém
pensou nisso?”. Tive o privilégio de dizer-lhes: “Leia Êxodo 22. Isso é apenas
o que Deus disse a Moisés no Monte Sinai há milhares de anos”. [5]
Os “Dominionistas” creem que forçar alguém a pagar uma restituição é uma
forma melhor de lidar com crimes contra a propriedade do que trancafiar o
ladrão numa jaula por um tempo determinado.
Notas:
[1] Peter
Hammond, Slavery, Terrorism, and Islam: The Historical Roots and
Contemporary Threat (Cape Town, South Africa: Christian Liberty Books,
2005).
[2] As
palavras “escravidão” e “escravo” não aparecem na King James Version.
A palavra “escravo” aparece em Jeremias 2.14, mas não no texto hebraico: “Acaso
é Israel um servo? É ele um escravo nascido em casa? Porque, pois, veio a ser
presa?”. Note que escravo está em itálico. Isso significa que a palavra não
aparece no hebraico e foi adicionada pelos tradutores.
[3] James B.
Jordan, The Law and the Covenant: An Exposition of Exodus 21–23 (Tyler,
TX: Institute for Christian Economics, 1984), 104.
[4] Veja Brian
J. Dodd, The Problem with Paul (Downers Grove, IL:
InterVaristy Press, 1996), 81–110.
[5] Charles Colson,
“The Kingdom of God and Human Kingdoms,” James M. Boice, ed. Transforming
Our World: A Call to Action (Portland, OR: Multnomah, 1988), pp.
154-55.
Fonte: http://americanvision.org/1655/dominionism-return-slavery/
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – abril/2011
Gary DeMar cresceu nos subúrbios de Pittsburgh, Pensilvânia. Ele é
graduado no Western Michigan University (1973) e recebeu seu M.Div. do Reformed
Theological Seminary em1979. DeMar tem vivido na área de Atlanta desde 1979 com
sua esposa Carol. Eles têm dois filhos já grandes. Gary e Carol são membros da
Midway
ICET - Instituto de Cultura e Educação Teonomista
E-mail: culturateonomista@gmail.com
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