domingo, 1 de março de 2020

"Dominionismo" e o Retorno à "Escravidão"


Críticos do “Dominionismo” estão alegando que os adeptos desse sistema de crença vagamente definido querem reinstituir a escravidão. Pode isso ser verdade? A escravidão praticada nos Estados Unidos antes de 1860 era o “rapto humano”, melhor definido como “sequestro”. Negros africanos do ocidente eram sequestrados, frequentemente por outros negros africanos ocidentais, colocados em navios, trazidos para o nosso litoral, vendidos em leilões, e finalmente colocados em trabalho forçado [1]. Em termos bíblicos, isso era errado. Manter que essa forma deveria ser reinstituída hoje em nome da “lei bíblica” é patentemente absurdo.
Muitos dos primeiros colonizadores da América pagaram para deixar de ser servos por contrato [indentured servants]. Um ladrão que fosse incapaz de fazer restituição poderia ser vendido em servidão por seu furto (Êx 22.3b). Mesmo após a abolição da escravatura, a servidão por contrato foi mantida pela Constituição como uma forma legítima de castigo: “Não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito à sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição por um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado” (Emenda XIII, Sec. 1). Essa forma de “escravidão”, termo nunca usado na Bíblia [2], é uma alternativa melhor do que punir alguém na prisão, custando aos contribuintes uma grande quantia de dinheiro, e tornando um ladrão num ladrão melhor, mais degradado, à medida que fica trancafiado numa jaula como um animal.
A escravidão como praticada nos Estados Unidos não pode ser apoiada mediante um apelo à Bíblia: “E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto”. Não existe nenhuma indicação de que Êxodo 21.16 se refira apenas aos israelitas. Se assim fosse, então o versículo 12 também se aplicaria somente aos israelitas, visto que sua linguagem é similar àquela do versículo 16:
“Quem ferir um homem, de modo que este morra, certamente será morto.” (21.12)
“E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto.” (21.16)
James B. Jordan oferece um bom resumo das questões envolvidas: “A Bíblia castiga todos os que roubam homens com a pena de morte obrigatória. Em Deuteronômio 24.7, o sequestro dos membros da aliança é particularmente proibido, mas em Êxodo 21.16, o roubo de todos e qualquer homem é proibido. Pode-se sustentar que se lemos o v. 16 no contexto do v. 2, então somente os hebreus são protegidos e vingados por essa lei. Contudo, o texto diz simplesmente ‘homem’, e não existe nenhuma indicação no contexto imediato (v. 12, 14) de que ‘homem’ se restringe aos membros do pacto”. [3]
Sabemos que, no Novo Testamento, Paulo condena os traficantes de escravos (sequestradores) em 1 Timóteo 1.10. O livro de Apocalipse considera aqueles que comercializam “corpos e almas de homens” como sendo imorais e destinados ao juízo (18.13). Em nenhum lugar o Novo Testamento apoia o tráfico de escravos. A carta de Paulo a Filemon não sustenta a noção de que o Novo Testamento tolera a escravidão clássica. Onésimo era provavelmente um servo que tinha uma dívida para com Filemon. Paulo encoraja que o Onésimo fujão retorne a Filemon e encoraja que Filemon liberte Onésimo após a sua chegada. Paulo diz a Filemon que promete pagar se Onésimo “te deve alguma coisa”. (Fl 18). A menção de uma dívida por Paulo parece indicar que Onésimo era um servo por contrato. [4]
Charles Colson aplicou ao sistema judicial de hoje os princípios da lei do Antigo Testamento com respeito à restituição e aos crimes contra propriedade:
Recentemente falei diante do Parlamento do Texas… Disse-lhes que a única resposta para o problema do crime é tirar criminosos não violentos das nossas prisões e fazê-los pagar suas vítimas com restituição. É assim que podemos resolver o problema da superlotação nas prisões.
O incrível é que depois eles [os parlamentares] vieram até mim, um após o outro, e disseram coisas como: “Essa é uma ideia tremenda. Por que ninguém pensou nisso?”. Tive o privilégio de dizer-lhes: “Leia Êxodo 22. Isso é apenas o que Deus disse a Moisés no Monte Sinai há milhares de anos”. [5]
Os “Dominionistas” creem que forçar alguém a pagar uma restituição é uma forma melhor de lidar com crimes contra a propriedade do que trancafiar o ladrão numa jaula por um tempo determinado.
Notas:

[1] Peter Hammond, Slavery, Terrorism, and Islam: The Historical Roots and Contemporary Threat (Cape Town, South Africa: Christian Liberty Books, 2005).
[2] As palavras “escravidão” e “escravo” não aparecem na King James Version. A palavra “escravo” aparece em Jeremias 2.14, mas não no texto hebraico: “Acaso é Israel um servo? É ele um escravo nascido em casa? Porque, pois, veio a ser presa?”. Note que escravo está em itálico. Isso significa que a palavra não aparece no hebraico e foi adicionada pelos tradutores.
[3] James B. Jordan, The Law and the Covenant: An Exposition of Exodus 21–23 (Tyler, TX: Institute for Christian Economics, 1984), 104.
[4] Veja Brian J. Dodd, The Problem with Paul (Downers Grove, IL: InterVaristy Press, 1996), 81–110.
[5] Charles Colson, “The Kingdom of God and Human Kingdoms,” James M. Boice, ed. Transforming Our World: A Call to Action (Portland, OR: Multnomah, 1988), pp. 154-55.

Fonte: http://americanvision.org/1655/dominionism-return-slavery/

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – abril/2011

Gary DeMar cresceu nos subúrbios de Pittsburgh, Pensilvânia. Ele é graduado no Western Michigan University (1973) e recebeu seu M.Div. do Reformed Theological Seminary em1979. DeMar tem vivido na área de Atlanta desde 1979 com sua esposa Carol. Eles têm dois filhos já grandes. Gary e Carol são membros da Midway


ICET - Instituto de Cultura e Educação Teonomista


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